REBECA MENDES

Eu não me encaixava em nenhuma das 3 hipóteses permitidas de aborto no Brasil (violência sexual, risco de vida para gestante ou gestação de feto anencéfalo), mas tinha certeza do meu direito. Como tantas mulheres que precisam do aborto, eu já tinha dois filhos, de quem desde sempre sou a principal cuidadora e responsável. Moradora da periferia de São Paulo, eu havia acabado de ser contemplada com uma bolsa de estudos para o curso de Direito, uma oportunidade que poderia mudar o meu futuro e o da minha família. Uma gravidez, naquele momento, colocaria tudo isso em risco.

Ainda que minha história tenha ganhado repercussão nacional e até internacional, meu pedido foi negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar disso, com o apoio de algumas organizações feministas, eu consegui realizar o procedimento de interrupção da gestação legalmente na Colômbia, com dignidade e segurança. A partir daí, centenas de mulheres passaram a me procurar todas as semanas, pois passavam pela mesma angústia que passei e precisavam de ajuda.

Depois dessa experiência, cresceu em mim o desejo de oferecer apoio e auxílio às meninas e mulheres brasileiras e assim surgiu, em 2021, o Projeto Vivas, para conectá-las aos serviços de aborto legal e seguro no Brasil e no exterior. Mesmo com pouco tempo de existência, o Projeto Vivas já é reconhecido pelas mulheres e profissionais que o conhecem. Até agosto de 2023, foram 407 meninas e mulheres atendidas pelo Projeto!